Mercado de picapes será um dos mais agitados nos próximos dois anos
Por GLAUCO LUCENA
Nos últimos anos, o mercado brasileiro recebeu uma enxurrada de lançamentos no segmento de SUVs. Ainda há novidades a caminho, mas as montadoras começam a perceber um potencial adormecido na categoria de picapes, também. E muitas já preparam suas armas para a próxima temporada, com um preview de gala no Salão do Automóvel de São Paulo, em novembro. Esse é um dos segmentos mais lucrativos do mercado, já que as picapes recolhem apenas 8% de IPI, quase os mesmos 7% dos 1.0. Um SUV diesel recolhe 25% de IPI, só para se ter uma noção de comparação.
Na categoria das médias, dificilmente alguém consegue ameaçar a supremacia da dupla Toyota Hilux e Chevrolet S10, mas tem muita gente de olho em uma fatia maior de mercado. A Nissan será a próxima a colocar lenha na fogueira. Até o fim do ano chega a Frontier produzida na Argentina. Hoje ela vem do México em cotas limitadas, apenas na versão topo de linha. Mas da Argentina virá uma família completa, com diversas configurações de cabine/caçamba, tração e versões de acabamento, sempre com motor diesel.
Mas o curioso é que essa plataforma da nova Nissan Frontier renderá outros frutos ao mercado. Dois, na verdade. Por um acordo estratégico da Aliança Renault-Nissan com a Mercedes-Benz, dessa base sairão ainda um modelo da Renault e outro da marca alemã. Ambos estarão no São Paulo Expo Center. A Renault Alaskan chega na virada do ano, e a Mercedes Classe X no primeiro semestre de 2019.
Será a primeira incursão da Renault nesse segmento. Por aqui, a Alaskan deverá ter motor diesel 2.3 twinturbo (dois turbos, um para rotações baixas, outro para altas), além do 2.5 a gasolina. Serão duas configurações de cabine (provavelmente dupla e simples), tração 4×2 ou 4×4 com redução, e mimos como câmera de estacionamento 360 graus (como no Nissan Kicks). Preços? Na faixa de R$ 110 a R$ 170 mil. Com um belo produto nas mãos, o desafio da Renault será fazer sua rede vender um veículo de maior valor agregado. E todos sabem que a venda de picapes exige um lado muito técnico das equipes de vendas – por isso a VW Amarok demorou tanto a embalar.
Isso não será problema para a especializada rede Mercedes com a Classe X, variação de luxo dessa plataforma Renault-Nissan. Ela terá peças de estamparia e interior exclusivos. Serão duas as opções de motorização: 2.3 turbodiesel de 190 cv (X 250d), com dois turbos, câmbio automático de sete marchas e tração 4×4. A versão mais cara (X 350d) terá motor 3.0 V6 turbodiesel de 258 cv e 56,1 mkgf de torque. Estimam-se preços entre R$ 190 e R$ 240 mil. Mas fala-se também numa versão simplificada, para o trabalho pesado, que seria vendida na rede de caminhões Mercedes num segundo momento.
Depois desse trio, fica a expectativa para que a FCA (Fiat-Chysler) entre na briga. A candidata do grupo é a Ram 1500 feita no México. Viria em volumes não tão grandes, obviamente, mas aproveitaria o prestígio que a Ram 2500 já desfruta junto ao agronegócio. O que está atrasando sua vinda é a motorização. O Brasil quer motor turbodiesel, como ficou claro nas pesquisas feitas no último Salão do Automóvel, quando ela foi exibida. Mas o México tem mais disponibilidade para exportar versões a gasolina, que não teriam aceitação por aqui. Por isso, não espere pela 1500 antes de 2021. Outra possibilidade é que ela seja produzida em Pernambuco, mas isso envolve acordos políticos e uma extensão dos benefícios fiscais que se encerram em 2020.
Com uma disputa tão ferrenha entre as picapes médias, como fica nos dois andares de baixo? Na base do mercado, pouca coisa vai acontecer. A líder Fiat Strada vende mais de 5 mil unidades com folga. O projeto de uma nova picape feita sobre a base Argo/Cronos deve sair da geladeira, finalmente. VW não vai mexer na Saveiro, nem a Chevrolet pensa numa sucessora para a Montana tão cedo.
Onde o mercado pode aquecer é entre as compactas mais parrudas, como Fiat Toro e Renault Oroch. Isso porque a VW desenvolve uma picape derivada da plataforma do Virtus, que teria o porte da Oroch, um pouco menor que a Toro. Com a VW não se brinca, como bem sabem os concorrentes. Coisa para 2019 ou 2020, fazendo a ponte entre Saveiro e Amarok. A Hyundai também tem um projeto para esta categoria, mas que depende do aval da matriz coreana para expansão da fábrica de Piracicaba (SP), que hoje opera no limite. O protótipo foi exibido no último Salão, batizado de Creta STC. Finalmente, a mídia estrangeira vem noticiando que a Ford desenvolve uma picape menor que a Ranger para brigar exatamente na categoria da Toro.
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