Combustível extraído do lixo e do esgoto pode ser solução para o Brasil
Por Gustavo Bonini
A mudança do atual modelo de transportes para um padrão com menos emissão de CO2 deve envolver um conceito mais amplo, o da economia circular, ainda pouco difundido no Brasil e que inclui a sustentabilidade social – com geração de renda e empregos – e financeira, para funcionar como um negócio.
A indústria automotiva já investe alto para disponibilizar, inclusive no Brasil, várias tecnologias para fazer essa transição nos transportes, substituindo a fonte fóssil por alternativas renováveis e limpas que vão dos biocombustíveis à eletrificação. Como parte do problema – o setor de transportes é responsável por 14% das emissões de gases de efeito estufa –, estamos em busca de soluções.
Este momento de transformação oferece grande oportunidade às fabricantes de caminhões, ônibus e veículos em geral. O maior desafio é trazer a transformação mais perto do nosso dia a dia, seguindo a vocação brasileira, rica em biocombustíveis. Além de gás natural veicular (GNV), etanol, biodiesel e HVO (óleo vegetal hidrogenado), temos uma riqueza que não está sendo explorada: o lixo e o esgoto gerados nas cidades e os resíduos do agronegócio, todos eles fontes do biometano, renovável e limpo. Essa é a “cereja do bolo” das novas tecnologias.
Transformar um passivo ambiental em ativo energético é um bonde que o Brasil não pode perder. Temos bons exemplos de utilização dessa tecnologia, como em Estocolmo (Suécia), onde lixo e esgoto viram biometano para abastecer veículos e prover de gás de cozinha. O excedente é vendido para movimentar a frota de ônibus da cidade, com a vantagem de o preço não ser influenciado por variações externas, como a cotação do petróleo.
Trata-se de um negócio que pode ser explorado já. Somente na Grande São Paulo, temos 22 milhões de habitantes produzindo lixo e esgoto, destinados a aterros. Estudo encomendado pela indústria automotiva apontou que a poluição causada pela frota envelhecida custa mais de R$ 60 bilhões/ano ao SUS, INSS, entre outros gastos.
Seria mais inteligente o Estado incentivar uma fonte energética renovável e limpa, com potencial para resolver todos esses problemas, e empregar esses recursos para motivar as empresas mistas ou privadas a explorar um combustível novo
A aposta no biometano é também um caminho para impulsionar o desenvolvimento econômico dentro do conceito da economia circular, que engloba a sustentabilidade ambiental, social e econômica. Mas, para dar esse salto qualitativo, temos obstáculos a vencer. Eles envolvem, sobretudo, o papel do Estado brasileiro na regulamentação desse setor e das empresas privadas nas transformações em curso.
Não é atribuição dos governos escolher a “melhor” tecnologia na transição entre os dois modelos. Ao setor público cabe fixar metas de redução de emissões e deixar o setor privado disputar quem vai entregar a melhor tecnologia com o menor custo.
Deve-se dispensar ainda o antigo conceito “do tanque à roda”, que mede as emissões apenas a partir do escapamento do veículo (ou da sua ausência, no caso da eletrificação) e passar a utilizar o conceito mais moderno de “poço ao caixão”, isto é, considerar a sustentabilidade para extração e produção do combustível até o seu devido descarte.
Sem apoio público, fica difícil para o setor automotivo liderar a mudança rumo ao transporte sustentável, disseminando o conceito da riqueza procedente do lixo, e permitindo ao biometano ganhar escala. Ao Estado cabe criar um ambiente propício para o setor privado, garantindo marco regulatório e infraestrutura adequados para que as empresas percebam essa alternativa como um negócio e invistam. Isso faria clientes e consumidores aceitarem essa inovação. Sem demanda não há negócio.
Gustavo Bonini é Diretor de Relações Institucionais e Governamentais da Scania e Vice-Presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores)
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Para nós ou para qualquer país do mundo? Há muitos anos atrás uma reportagem no Fantástico mostrou um cientista ou estudioso/curioso que mostrava um motor que poderia funcionar com qualquer óleo que colocassem no tanque. Misteriosamente não passou de 1 reportagem, o cara sumiu.
Aqui tem dois problemas, o primeiro é em relação às empresas de petróleo, que vão fazer de tudo para que isso não avance. Em o segundo problema, aqui é Brasil.
Vão colocar este combustível a um preço bem alto e explorar o máximo que puderem os consumidores e o poder público, assim como a industria farmacêutica e de produtos de higiene e tbm os comerciantes, estão fazendo em relação à necessidade de remédios e insumos para a proteção contra o Corona Vírus. Brasileiro adora bancar o “esperto”.